ENSINO DE MATEMÁTICA EMPERRA NO 3º ANO DO FUNDAMENTAL

16 04 2009

Transcrição: CAROL MEDEIROS, RIO DE JANEIRO – “O DIA”

Pesquisa aponta que estudantes das redes estadual e municipal assimilam muito menos nesta série em comparação a outros anos

Rio – Identificar um círculo na forma de um sol desenhado, apontar no calendário os domingos que caem em dias pares, saber que o biscoito com validade de 12 meses fabricado em março de 2008 já venceu ou apenas dizer quanto é 4 + 3. Conhecimentos matemáticos básicos que qualquer criança que concluiu o 3º ano (antiga 2ª série) do Ensino Fundamental possui, certo? Errado. É o que mostra o resultado do teste de Matemática divulgado recentemente pelo Município. E que pode ser explicado por outro resultado, ainda inédito, de pesquisa realizada por seis universidades do País: os alunos da rede pública de várias capitais aprendem menos Matemática no 3º ano do que em qualquer outra série do primeiro segmento do Ensino Fundamental. Por quatro anos, especialistas fizeram testes de Português e Matemática para verificar o desempenho de 20 mil crianças, em 880 turmas, de 303 escolas públicas e privadas do Rio, Belo Horizonte (MG), Campinas (SP), Salvador (BA) e Campo Grande (MS). O Projeto Geração Escolar (Geres) os acompanhou do 2º ao 5º ano (antiga 1ª série à antiga 4ª série) e identificou um obstáculo na vida escolar dos alunos de unidades estaduais e municipais no terceiro ano de estudo. Eles aprendem, em média, três vezes menos conteúdo.
“É como se houvesse uma paradinha na evolução do aprendizado. Por algum motivo, eles desaceleram ou o ensino diminui seu ritmo”, explica um dos coordenadores da pesquisa, Nigel Brooke, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Laura Ribeiro, 9 anos,aluna de uma escola municipal na Zona Oeste, é um exemplo do que revelou o estudo. Ela concluiu o 3º ano em 2008, mas não sabe o que é um pentágono nem consegue diferenciar pares e ímpares. Seu colega de turma Jeferson Marques, 11, tem dificuldades em multiplicar números de um dígito e também errou as perguntas do início deste texto, que estão entre as questões do provão aplicado pela Secretaria Municipal de Educação. Já Adriano Domingos de Oliveira, 8, que cursa o 3º ano em escola municipal no Centro, não sabe quanto é 4 + 3. “Eu sei tabuada, mas é difícil”, diz Laura. A dificuldade é um problema específico dessa série, porque nas duas posteriores os alunos retomam o progresso em um ritmo mais acelerado, dentro da média observada no 2º ano. “Eu acredito que a pressão em cima das professoras para ensinar as crianças a ler e  escrever, a consolidar a alfabetização para fechar esse ciclo, faz com que elas privilegiem o ensino da língua e dediquem menos tempo aos números”, diz Nigel.
MATEMÁTICA DE 3º ANO
No 3º ano o aluno já deve ser capaz de ler, escrever, comparar e ordenar números, resolver situações-problema envolvendo adição e subtração, realizar cálculo mental e exato de subtrações, fazer multiplicação por 2, 3, 4 e 5, calcular resultados de multiplicação e divisão através de estratégias pessoais, interpretar tabelas simples e perceber semelhanças e diferenças entre cubos, quadrados, retângulos, triângulos e círculos.

DESEMPENHO ABAIXO DO ESPERADO

Na avaliação do Geres, 40% dos que estudam em escolas municipais e 33% dos matriculados nas estaduais, ao fim do 3º ano, ainda não tinham chegado ao nível básico de aprendizado: não eram capazes, por exemplo, de decodificar o sentido de palavras em um contexto ou recuperar informação explícita em um pequeno texto.

MAIS REPETÊNCIA

O Ideb-2007 mostrou que o 3º ano (ex-2ª série) é o que mais reprova no Ensino Fundamental. Apenas 67% dos alunos das escolas estaduais passaram para o 4º ano em 2007.

CAMINHO SEM VOLTA

Ainda que retomem o ritmo do aprendizado, os alunos das escolas públicas dificilmente recuperam o ‘buraco’ deixado pelo conteúdo que não aprenderam ou não lhes foi ensinado no 3º ano. A prova do Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Rio, realizada em novembro, mostrou que 23% dos alunos de 5º ano não conseguiam formar uma frase e 42% não sabiam as 4 operações.


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