TIROS EM REALENGO: O DIA SEGUINTE

9 04 2011

Aqui em minha sala, a luz do sol ao entrar pela janela do lado esquerdo, produz um efeito causado pelo desenho da vidraça e projeta a sombra de uma cruz no chão. O símbolo maior do Cristianismo, marca em minha lembrança o terrível e inesquecível dia de ontem.
“Foram 10, 12 minutos de tiros”, diz o aluno. “Vi meu filho com um tiro na cabeça”, diz o pai. A lista de relatos do horror praticado ontem em Realengo se estende e cresce, mas a pergunta inicial e irrespondível permanece tão presente e forte quanto o sol deste belo dia seguinte: por que um ser humano (?) faz algo tão terrível contra seus semelhantes? Crianças indefesas além do mais…
Não faltarão palpiteiros e especialistas – existe diferença? – propagando na mídia as mais complexas e mais simples teorias para justificar/explicar tanta insanidade, inúteis todas. “É falta de religião!” dizem alguns, “é excesso de religião!” dizem outros. Deturpando Nietzsche, penso que todos têm razão e ninguém tem razão.
Na república platônica, semelhante distúrbio da natureza não teria passado pelo exame inicial e teria o mesmo destino dos outros desvios genéticos, mas soluções genéticas estão ligadas para sempre, aos experimentos nazistas e o resultado é sobejamente conhecido por todos.
Permanecendo na raiz das coisas, repito aqui a pergunta do poeta: “Que ventre produziu tão feio parto?”.
O aprendiz de Satã teria outro destino se fosse de um lar funcional e amoroso? Ou é um típico produto do verme da droga que está corroendo as instituições – família inclusive – desde os fatídicos anos sessenta?
O discípulo de Asmodeu não foi amado na infância e resolveu acertar suas contas com a sociedade, pagando com ódio adulto os castigos recebidos na infância? Dá-lhe Freud…
O aluno de Lúcifer é mais um delirante que, com perdão do vulgar, “quer aparecer” a qualquer custo, não importa qual seja?
O fato é que além de matar os sonhos, das vítimas e das famílias, ainda no ovo, os tiros em Realengo também traumatizaram, para sempre, os que sobreviveram.
Lembro aqui o que é para meus propósitos o maior dos crimes cometidos pelo artesão do demônio. Hoje, o dia seguinte dos tiros em Realengo, apesar de tudo é um belo dia de sol e aquelas crianças, pobres e infelizes crianças, não estão mais aqui para ver um dia assim, com um sol assim.
Aqui em minha sala, a luz do sol ao entrar pela janela do lado esquerdo, produz um efeito causado pelo desenho da vidraça e projeta a sombra de uma cruz no chão.
Que em paz descansem.